17 de dezembro de 2010

Palhaço


Serpenteando pelo asfalto
comendo a poeira negra
rastejando as migalhas
de uma misericórdia frustrada

O desentupidor de vasos
o jovem rabujento
a passos lentos

O circo foi engraçado
porque morreu o palhaço

Comprovantes de culpa
tudo é podre e traiçoeiro
o amor é divino
e amar, maldito erro

Verei você clamar
gritar meu nome
seja como for

Verei você implorar
e não cessará essa fome
o seu vício de dor

Como uma cadela vadia
madrugando no cio
você procura o céu
e só achará o vazio.

Árvore seca


Passos e passos
palavra após palavra
os dias se trancam
a luz inerte
de uma vela fria

Eu sou a árvore seca
que morreu
sem o seu
carinho

Uma ponte de traços
nem tudo nem nada
uma pedra branca
a vida infértil
de uma sala vazia

Você vai estar
sempre 
em meus sonhos
pois um verso
é pouco...

15 de fevereiro de 2010

Imensidão


Em um universo azul de sol vermelho
E em uma palavra um ponto escuro
Um livro e poeira
Chamando um a um

Chamando um a um
Um livro e poeira
E em uma palavra um ponto escuro
Em um universo azul de sol vermelho


Ohlemrev los ed luza osrevinu mu me
Orucse otnop mu arvalap amu me e
Arieop e ovril mu
Mu a mu odnamahc

Mu a mu odnamahc
Arieop e ovril mu
Orucse otnop mu arvalap amu me e
Ohlemrev los ed amu luza osrevinu mu me

Festival



Uma manhã de chuva
Uma tarde de sol
Gosto estranho na boca
Ausência de euforia
Enquanto o mundo grita
E pessoas sofrem...

E sob a terra jazem os feridos
Na guerra entre santos e homens
Onde iremos parar
Gastando tanto em nada
Esculpindo e ostentando histórias
Que não fazem sentido algum
Enquanto histórias de vida
São interrompidas.

Uma mãe chorava
Mas não pude ouvir sua voz
Porque estou do outro lado...

A televisão esqueceu,
Mas eles não
Em um festival de sangue
Onde as fantasias são reais
E onde a noite desce fria.

14 de fevereiro de 2010

Oração


Jogue suas preces pro alto
E queime no fogo do inferno
Com suas sábias palavras idiotas.
Não te peço misericórdia
Não sou um condenado!
Não somente.
A sua moral incontestável
(Paradoxal)
E a sua cega fé
Embrulham-me o estômago.
Vomitando tuas ameaças,
Rejeitando tuas palavras,
Seguindo rumo ao inferno
Estou só, mas não sozinho.
Quem mandou jogar pérolas aos porcos?
Engula sua sentença,
Queime os seus malditos dogmas...
Viva!
Viva erradamente, mas viva.
Pois como dizem todos, santos e pagãos,
Melhor viver errando que morrer sem tentar.

Regressão

O que é viver senão construir planos?
Planos que vão e vêm,
Esculturas de gelo que estilhaçam e derretem...
Somente chuvas de verão.
O que é amar se não houver enganos?
Sonhos que aqui estão,
Risos e lágrimas que bradam ou descem...
Gotas de sangue no chão.
Virei às costas a mim mesmo?
Sim, mas voltei
E corri em tua direção;
Rasguei a tristeza ao segurar a tua mão.
Por que tantas dúvidas, tanto medo?
No fim meu amor, pôs meus pés no chão
Sofri temendo não merecer teu perdão...
Mas teu sorriso me deu forças pra voltar.
Só estar contigo me interessa;
É em tua vida que a minha começa,
Tua face me faz ir além... Flutuar.
Minha eternidade é sonhar acordado
Porque se a realidade é estar sem você,
Digo que nada mais poderia fazer,
Só morrer, sem você ao meu lado.

Nascimento


Perdido...

Mais um ser sem alma?

Vagando na escuridão.

Partido...

Porque não me acalmas?

Ferido e morto de solidão.

Teu sono, o teu calar, o teu cansaço,

A melodia que nos envolve

Sem ver-te, sem tocar-te, sem teu abraço,

Convida-me suavemente à morte.

Atração fatal, fios brilhantes no aço;

Que a beleza do meu sangue prove

Sua presença em mim, nosso laço,

Pois me entreguei sem recusas a tal sorte.

Beije-me descontroladamente,

Toque-me e enxugue minhas lágrimas.

Mergulharei em ti completamente,

Afogando-me no escuro destas águas.

Navalha


É eu te procurei

Todas as vezes que caí,

Em todos os escuros que me cegaram,

Em todos os vazios que vivi.

Nas noites em que o medo era soberano,

E em que o frio tirava-me o sono,

Até mesmo na morte que se aproximava...

Hoje seu coração está aqui

Sangrando em minhas mãos,

Fatiado em uma bandeja de cristal...

Sinto muito vida minha: não é o bastante?

Minha vida não é bastante?

É eu te procurei

Em todas as dores que senti,

Em todos os rancores que mataram,

Em todas as faces de que me despedi,

Até em mim mesmo que me mutilava...

Hoje minha alma está aí

Agonizando e clamando salvação,

Rejeitada, à espera de um sinal.

Será tudo vida minha, uma paixão obsedante?

Minha ilusão obsedante?

É eu te procurei

E agora que te encontrei

Jamais te deixarei escapar...

Quero ver-te em meus braços, te acalentar...

Sonho que sempre esperei

E de que nunca mais acordarei.

Lavagem cerebral


Se eu pudesse chorar de felicidade

Se ao menos pudesse acreditar

Se o silêncio me fizesse voar

Sentiria as esperanças retornando

Como as águas de um vendaval

Ou os ventos de um turbilhão

Caindo por terra, me abandonarão?

Se eu fizesse os corruptos emudecerem

Se eu ouvisse o grito dos mortos

Se eu tirasse dos ricos sua droga de vida

Sentiria as esperanças retornando

Prefiro não dormir e me envenenar

(não)

Nunca perca a razão

(não)

Ou sua face...

Eles deformarão!

E perderá sua visão.

Não se cale


Quando o seu jardim morrer
Quando você for crucificado
Quando te esmagarem na parede
Não se cale ou será congelado
Morra mas não deixe de existir
Faça sua presença valer aqui
Quando as portas se fecharem
Quando o céu cair sobre nós
Quando os grandes te humilharem
Não se cale, faça calarem
Queime o que eles chamam de alma